O naufrágio do teatro municipal
16-06-2010 07:00Inspirado na forma de um apito, o Teatro Municipal Severino Cabral de Campina Grande nasceu em meio a uma época conturbada e contrária ao desenvolvimento de construções que incentivassem a liberdade cultural. Mas o Regime ditatorial dos anos sessenta não suprimiu aos empenhados na reivindicação de um espaço que abrisse às portas a discussões e produções artístico-culturais.
Além de marcar a produção regional campinense e abrigar as diversidades culturas, o Teatro Municipal representa um marco também na arquitetura de Campina, com linhas modernas e aspectos condizentes com a proposta ideológica desse templo da arte. Sua estrutura conta com uma área quadrada de 4816m e abriga 586 espectadores. Já passou por duas reformas, uma em 1975 no formato de restauração, apenas; e uma em 1986 que representou a conclusão do projeto inicial do arcabouço do Teatro, instaurando, inclusive, o Mini-Teatro Paulo Pontes com 80 lugares em área adjacente.
Recentemente, O “Cabralzão”, como é conhecido, vem passando por uma nova reforma que visa a uma ampliação para 800 lugares no palco principal. A questão é que a reforma provoca controvérsias quanto aos aspectos estruturais e, principalmente, temporais. “A nossa acústica é uma das melhores do Brasil, vamos ver se essa reforma não irá danificá-la”, afirmou Suelen Marques, aluna de um dos vários cursos ministrados no teatro. De fato, a estrutura do teatro é muito boa e a acústica é a quinta melhor do país. Perguntada a respeito disso, a diretora Alana Fernandes afirmou que “a reforma começa pela substituição de todas as poltronas, pelo sistema de ar condicionado, toda a parte elétrica, o sistema de iluminação, a roupagem do palco, a reparação do teto, e a construção de uma cabine de som que ainda deve melhorar o sistema acústico que está um pouco comprometido pela deterioração da madeira”.
Com respeito à questão do tempo ela disse que o projeto de execução da reforma prevê o término para Julho de 2010. Porém, foi constatado que o teatro passou um ano inteiro interditado sem que se iniciasse a reforma, porque esta, segundo a diretora, “vai do teto à calçada, passando pela substituição de todas as poltronas, um foco de reclamação antigo do público que fez com que se decidisse fechar o teatro mesmo antes da licitação ter sido iniciada”. Na direção contrária, as pessoas que faziam uso do teatro afirmaram que havia claras condições de uso no período em que se encerraram as tarefas.
Gerações passadas dão conta de que a estrutura arquitetônica do teatro não representa um apito, mas a proa de um navio, seguindo o estilo da época. Independente da forma que o nosso teatro represente, é bom tomar cuidado com todos esses problemas que o circundam, está na hora de chamar a atenção da sociedade com esse apito para não deixar a proa desse valioso navio afundar.
Reportagem: Rafael de Araújo Melo.
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