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Entrevista com o vereador Olímpio Oliveira

16/06/2010 07:00

Revista Interativa: Vereador, sabemos do seu histórico em prol da luta contra as drogas dentro da sociedade campinense, por isso gostaríamos de saber por que esse tema lhe desperta tanto interesse e engajamento?

Olímpio Oliveira: Minha formação é na área de Direito e eu sou delegado de polícia civil de carreira. E como delegado percebi que a repressão tão somente não dará uma resposta que a sociedade espera, pois infelizmente os governos só investem em repressão e aí na minha condição de cidadão consciente, que recebeu educação do Estado na minha formação. Sempre estudei em escola pública, e tenho dado a minha contribuição enquanto cidadão fazendo prevenção, porque é fundamental que o investimento seja feito. Ainda hoje o governo federal peca nesse aspecto. Para você ter uma ideia de 2009 até hoje, o governo federal investiu somente 234 milhões em prevenção. Se você for ver o que foi investido em repressão é muito distante desse valor em prevenção. Então nós precisamos fazer esse trabalho, porque a cada dia que passa nós temos mais jovens querendo usar drogas e é preciso que esses sejam conscientizados, equilibrados para dizer não às drogas com argumentos palpáveis, plausíveis.

Revista Interativa: Vereador, como o Senhor analisa a questão sobre os avanços do uso das drogas, especialmente o crack, na cidade de Campina Grande?

Olímpio Oliveira: A minha analise é de omissão total do Estado.  Há cerca de um mês nós assistimos todos estarrecidos no Fantástico da Rede Globo, jovens fumando crake nos jardins dos Palácios do Planalto e do Itamarati. Os jovens fumando crack “às barbas”, abertamente, ao sol a pino, na porta do poder central desse país. O poder que tem a obrigação de desenvolver as políticas de prevenção e que não desenvolve. Então, a nossa preocupação é essa omissão principal dos governantes, que querem enfrentar esse problema com campanhas publicitárias. Isso é importante, mas não resolve o problema. O que resolve é você dá oportunidade ao jovem, pois vivemos numa democracia e o povo acha que democracia é você ter o direito de votar, de ser votado. Democracia para Olímpio Oliveira é igualdade de oportunidade. O jovem precisa ter oportunidade para ser “gente”, para disputar o mercado de trabalho e essas oportunidades surgindo ele agarra com as duas mãos. Enquanto a oportunidade não surge, fica apenas a opção da droga e da criminalidade, lamentavelmente.

Revista Interativa: De que forma o vereador Olímpio Oliveira e a Câmara Municipal tem trabalhado em torno desse grave problema? Quais projetos abordam essa questão?

Olímpio Oliveira: Eu particularmente tenho uma luta que começou há 10 anos. Estamos completando 11 anos de batalha, e já implantamos serviços importantes em Campina Grande. Como por exemplo, o Grupo de Amor Exigente, que é uma filosofia trazida dos Estados Unidos e atende semanalmente cerca de 60 famílias no bairro de José Pinheiro, ao lado da Paróquia São José, com reuniões nas terças feiras às 19h30min. Lá desenvolvemos um trabalho com a família dos dependentes químicos. Trouxemos também o Grupo de Narcóticos Anônimos que funciona todo sábado às 15 horas na Faculdade de Direito da UEPB. Fundamos a Associação Campinense de Prevenção às Drogas, que se reúne a cada primeiro domingo do mês na SAB do bairro de José Pinheiro. Além disso, particularmente tenho feito uma peregrinação de escola em escola, de igreja em igreja, de casa em casa, enfim, de comunidade em comunidade, fazendo uma pregação pela vida e contra as drogas. Faço trabalho voluntário também no Centro de Recuperação Homens de Cristo, onde semanalmente estou ministrando palestras para os jovens internos. Na área parlamentar propriamente dita, trabalhamos para reativar o Conselho Municipal Antidrogas, que está funcionando. Quando assumi o mandato de vereador, este conselho estava fechado e lutamos pela reativação do Conselho Municipal Antidrogas. Colocamos esse conselho sob a tutela da Secretaria de Educação do Município e temos travado uma luta para a implantação das comissões antidrogas nas escolas. Nesse aspecto estou com a consciência tranquila de que como vereador tenho trabalhado muito para Campina Grande ter mais prevenção às drogas.

Revista Interativa: Por qual motivo o Senhor solicitou a criação de uma ala específica para dependentes de drogas no novo hospital de Traumas de Campina Grande?

Olímpio Oliveira: Muito oportuna sua pergunta. Em Campina Grande, hoje, se o jovem quiser, se a mulher, a criança, o adolescente que estão nas drogas quiserem sair, eles não tem para onde ir. Olha só que denúncia grave: a pessoa quer deixar a droga, "eu não quero mais usar droga, preciso de um tratamento." Você não encontra infelizmente nesta cidade um lugar para isto. O Ministério da Saúde diz que o Sistema Único de Saúde, o SUS, é universal. Ele não pode discriminar doentes e o dependente de drogas é um doente reconhecido como tal pela Organização Mundial de Saúde. Desde 1962, a doença da dependência química é reconhecida. Então ele não pode ser rejeitado no sistema hospitalar em Campina Grande. O Estado está construindo um hospital público, e existe uma possibilidade de nesse hospital público a gente disponibilizar leitos para aqueles que estão querendo sair da droga. Estão querendo sair do caminho da morte prematura. Nós estamos lutando, e estou tentando conseguir. Por duas vezes tentei uma audiência com o Secretário Estadual de Saúde. E se o Estado não me receber, já estou no propósito de ir ao Ministério Público porque não estou pedindo favor, não estou pedindo clemência, estou pedindo que o direito destas pessoas seja respeitado. Então, estamos dispostos em ir ao Ministério Público, ir ao Poder Judiciário para que lá, no nosso Hospital Geral, tenhamos uma ala especifica para o tratamento do dependente de droga.

Revista Interativa: O ex-Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, é uma das pessoas mais engajadas em favor do projeto do uso indiscriminado da maconha. Qual a sua visão a respeito do posicionamento do ex-Ministro? O Senhor é a favor ou contra a liberação do uso da maconha?

Olímpio Oliveira: Nesta casa (Câmara Municipal) tivemos a oportunidade de aprovar um requerimento de minha autoria, de um voto de protesto contra o Ministro. Como pode um Ministro, que faz parte de um governo e de um governo que diz que promove políticas públicas para prevenção às drogas, que gasta dinheiro com campanhas publicitárias desestimulando o jovem de usar droga, e um Ministro desse governo vai fazer passeata para liberação de uma droga ilícita? Então, apresentamos aqui um voto de protesto contra ele. Mas já tive noticia de que ele esteve envolvido em outra passeata em favor da maconha. O Sr. Carlos Minc mostra um desconhecimento muito grande. Um ministro mal informado. Lamentavelmente, a política brasileira, a legislação brasileira não pune mais o usuário, o usuário de nenhuma droga. Isso é grave, pois nos países civilizados essa liberação foi feita pelo grau de gravidade de determinada droga. Assim, a maconha em determinados países é liberada para o consumo. Mas o êxtase, o crack, a heroína não. Aqui foi liberado todo tipo de droga. Ninguém mais hoje é preso por estar consumindo droga, ninguém mais vai para a cadeia porque estar consumindo droga. O que se pune é o tráfico de drogas. Você pergunta: isso é correto? Eu acho questionável, porque não temos um anteparo... Sou totalmente contra a liberação de qualquer tipo de droga, inclusive as lícitas. Hoje estas são as que mais matam, como  a bebida alcoólica. Acredito que deveria haver restrição também a essa facilidade de a criança e o adolescente terem para beber nesse país impunemente. Melhor dizendo, quem vende quem distribui a bebida também deveria ser punido.

Revista Interativa: Em sua opinião, qual seria o papel das instituições religiosas no processo de prevenção às drogas ou no processo de recuperação das pessoas envolvidas?

Olímpio Oliveira: Eu elencaria em primeiro plano a família. A Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada diz lá textualmente nos Provérbios 22:6 “ensina a criança no caminho que se deve andar que ainda quando for velho não se desviará dele”. Isso é um exemplo, que a família equilibrada dá bons exemplos aos filhos de virtude, encaminhando-os para uma vida em harmonia. Se a família falhar, a nossa esperança é a escola, com professores conscientes, fazendo um papel suplementar. A escola falhando, a esperança está na igreja. A comunidade judaica do mundo hoje é a maior detentora de Prêmios Nobel, exatamente porque a educação do menino não depende apenas da família, mas também da escola, da comunidade e esta se empenha em educar a criança. Na cultura judaica é fundamental que o menino aos doze anos participe de uma cerimônia chamada Bnai Mitsvá (Filhos do Mandamento), na qual ele é sabatinado a respeito da Torá, livro sagrado dos judeus. Assim ele precisa ler, se aculturar. Portanto, a família, a escola e a sociedade devem trabalhar juntas. A nossa sociedade esta apática a esse problema. A gente só se preocupa com isso quando um problema surge em casa. Devemos sempre cobrar do governo o cumprimento do seu papel.

 

Reportagem: Elaine Arruda e José Neto Lacerda.

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